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Um ano de guerra na Ucrânia: balanço e prospetiva
24 Fev 23 —

“A guerra na Ucrânia é um momento de viragem histórica que abre um período com elevados níveis de incerteza e volatilidade. É um período de reconfiguração da geopolítica mundial em que se cruzam desafios ambientais/climáticos, económicos, políticos, sociais, tecnológicos e demográficos.” em PLANAPP, Nota Rápida de Prospetiva 09.

Há exatamente um ano a “Rússia invadiu a Ucrânia desencadeando a mais importante guerra em solo Europeu desde o final da Segunda Guerra Mundial“.  

O PLANAPP publicou, desde então, um conjunto de nove notas rápidas de prospetiva sobre as consequências da guerra. Estas publicações abordaram vários tópicos como o abastecimento de gás; os preços da eletricidade e o mecanismo MIBEL; os impactos sociais e políticos; ou os efeitos sobre as exportações e importações portuguesas e nos setores da economia mais afetados pelo conflito.  

Em paralelo, foram dinamizadas duas sessões de debate: a primeira, a 11 de março de 2022, dedicada à discussão do tema “Conflito Rússia-Ucrânia – Impacto Económico em Portugal”. A segunda, a 5 de dezembro de 2022, intitulada “9 meses de Guerra – Balanço e Prospetiva”, contando com a presença de peritos externos nas áreas da geopolítica, economia e energia, e de onde se destacam os seguintes pontos-chave para a atividade do PLANAPP: 

  • a relevância da política pública e do planeamento estratégico para enfrentar as múltiplas crises e transformações em curso (e.g., covid, guerra, alterações climáticas, inflação);  
  • a necessidade de existirem instrumentos que permitam incorporar choques drásticos nas análises;  
  • a importância de desenvolver narrativas positivas em torno da superação dos desafios atuais, para as quais a política e o planeamento estratégico são essenciais, como é exemplo o Porto de Sines e o seu terminal de gás natural liquefeito (GNL), que é atualmente uma enorme mais-valia para o país.  

Da nona Nota Rápida de Prospetiva, “9 meses de Guerra – Balanço e Prospetiva”, destacam-se duas das principais tendências que se reforçam como resultado da guerra: o regresso da História e o papel de Portugal num novo contexto geopolítico.  

O regresso da História 

As políticas industriais de natureza protecionista, de que é exemplo o Inflation Reduction Act nos Estados Unidos da América (EUA), demonstram o regresso de ferramentas e políticas públicas que não se enquadram nas teses do “fim da história”. O mesmo acontece com os debates recentes em torno do controlo estratégico de preços para fazer face à inflação e às disrupções sentidas em setores específicos (como o setor energético). 

Perante estas alterações, as certezas, os métodos e as abordagens assumidas nas últimas décadas revelam limitações para a compreensão dos fenómenos em curso e elaboração de respostas aos desafios e oportunidades que emergem. Assim, num mundo de grande volatilidade, rodeado por incertezas, os mapas tradicionais de planeamento estratégico, baseados em tendências lineares e aplicados a projeções clássicas, já não têm capacidade para ajudar na tomada de decisões. Torna-se necessária uma “caixa de ferramentas” ou uma abordagem que nos permita considerar cenários de futuros alternativos. 

O processo de tomada de decisão política deverá ir além das previsões, procurando explorar o inesperado e incluir cenários que pareçam improváveis ou mesmo inverosímeis. A palavra-chave parece, assim, ser “preparação” e não “previsão” ou, parafraseando os especialistas em prospetiva, “aproveitar a incerteza e evitar a surpresa”. Para tal, é necessário complementar as abordagens tradicionais com métodos mais híbridos e ferramentas de prospetiva. 

Portugal num novo contexto geopolítico 

O confronto desencadeado pela invasão da Ucrânia pela Rússia ultrapassa as fronteiras dos dois países e atinge o mundo todo, em particular a Europa. As consequências da guerra ultrapassam os efeitos económicos de curto prazo e os impactos podem redesenhar o mapa da geopolítica global. 

Antecipa-se um mundo mais conflituoso, com maior peso do setor militar e maior preocupação dos principais atores globais em reforçar a sua autonomia estratégica em termos económicos e militares, resultando em maiores restrições à integração na esfera financeira, comercial e informacional. 

Neste mundo mais fragmentado, o papel de Portugal, enquanto plataforma privilegiada de relacionamento entre a Europa e o mundo, ganha relevo. É de particular relevância dinamizar e aprofundar as relações no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), tendo em vista que este espaço poderá ganhar peso como fornecedor de energia e outros produtos estratégicos para a Europa. 

Neste dia, em que se assinala um ano desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, fazemos o convite à reflexão sobre os impactos desta guerra e sugerimos a leitura das várias notas sobre a matéria, produzidas no decorrer de 2022.

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